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terça-feira, agosto 30, 2011


Não, ele não gostava de poesias. Apenas palavras soltas em algumas linhas, uma rima aqui outra ali. Estrofe, verso, frases impostas e pequenas. Frases que sozinhas não conseguiam expressar os seus sentimentos, frases que antes colocadas de outra forma poderiam trazê-lo à vida, mas em formato de poesia não.
Não que fosse manha, ruindade ou coisa assim. Somente achava que aquelas ínfimas palavras jogadas no papel, enfileiradas e arrumadinhas não eram o que ele realmente sonhava. Sonhava com frases, parágrafos e sentenças. Sonhava com a complexidade que as palavras lhe surgiam e que ele ia transcrevendo. Com a velocidade corrente e contente com que as colocava no papel. Com a forma obscura em que apareciam em sua mente e que pouco a pouco, ele dissipava a névoa de pensamentos e o concretizava em um simples texto.
Sim, ele não gostava de poesias. A poesia era bela demais, suave demais, simples demais para o mundo em que vivia. A poesia nada mais era, do que uma pintura renascentista, enquanto ele via a vida como um Picasso. A poesia o limitava, e ele não gostava de limitações, preferia viver o arriscado, o incerto e o errado.

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