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quinta-feira, dezembro 29, 2011



Uma xícara antiga, com um desenho comemorativo e sem significância. A fumaça ondular que sai dela, quente. Uma coberta enrolada ao corpo, um cabelo despenteado e as ideias se confundindo em sua cabeça.
Escolhe a melhor posição, segura o lápis e a folha de papel em branco. Fecha os olhos e sente a ideia vindo, a cena se formando em sua mente e todas as coisas que passou para que resultem em seu trabalho final.
O lápis vai fazendo formas no papel, e a xícara vai esvaziando-se.
E o papel deixa de ser branco, e a xícara de ter fumaça, e o lápis de ter ponta, e a mente de ter ideia.
Todos se unem e, no fim, olha orgulhoso para a folha coberta de grafite, e para a xícara cheia de ar e sente a barriga quente. Dá um sorriso de satisfação e deixa o desenho à mostra para todos que quiserem ver. Sua mãe pendura na geladeira, e para ele é melhor que qualquer exposição no Louvre. Sente que agora que é um artista completo, deve mudar completamente suas concepções: "Giz de cera, me aguarde".

segunda-feira, dezembro 19, 2011

O Crime



Gravidade. Uma força que te puxa para a terra e firma teus pés no chão. A gravidade nesse mundo não existe mais, foi implantado um sensor em todos os seres humanos, que é automaticamente ligado quando comete-se um crime. O Sensor de gravidade age de acordo com a lei, e corta a gravidade do meliante durante o tempo de punição, fazendo com que todos saibam que aquela pessoa cometeu algum crime. Eles flutuam, e alguns se perdem pelo ar.
Lembro-me de quando, com uns sete ou oito anos, minha mãe me colocou num ônibus, me beijou a testa e disse para tomar cuidado quando chegasse na casa de minha avó. Duas coisas ficaram mal explicadas naquele dia, a primeira delas era o motivo de eu nunca ter chegado ao meu destino, e sim ter descido na beira de um orfanato, e o por quê de minha mãe ter dado meia volta e pairar no ar, como quem anda sob algodão-doce.
Penso que ainda hoje, com meus tantos anos, devia ter perdido a gravidade. Sempre tentei usar a lei a meu favor e nunca cometi um crime na vida. Pelo menos não um que estivesse na constituição, ou que fosse cabível de julgamento. Só eu sei como eu queria que meu crime fosse realmente um crime, e que eu pudesse mostrar a minha vergonha, compartilhar para todas as pessoas como eu fiquei devastado.
Um crime bobo, e sem sentido para uma criança, um jovem que eu era, meu crime foi não amá-la. No dia que seus cabelos louros e compridos, brilhavam como o sol; que seu nariz estava com as sardas mais bonitas que eu já havia visto, ela se declarou para mim. Uma amiga como outra qualquer, mas para ela eu era o rapaz que ela desejava ter até o último dia de sua vida. Ainda ouço ela dizer -Eu te amo- e seus olhos azuis olharem dentro de meus olhos, dentro de minha alma. Me arrependo por ter dito que não, que não era certo, que éramos como irmãos. E quando então, ela largou minhas mãos e com lágrimas escorrendo pelo rosto saiu correndo; um carro vermelho a acertou em cheio, não me deixando outra alternativa senão assistir a cena, estatica e friamente. Enquanto o sangue fazia uma poça no chão e o motorista do carro, embriagado, se agarrava a uma placa de trânsito retorcida para não sair flutuando.
A perda de gravidade teria sido a melhor punição. Eu queria que me vissem e me julgassem como "o incapaz de amar" mas quando eu andava na rua, com meus pés firmes, e mãos no bolso, eu não conseguia compartilhar com ninguém o que sentia. E essa dor me acompanha até hoje, e esse crime que cometi, apesar de ser inconstitucional, foi para mim o mais dolorido.

sábado, dezembro 10, 2011

A mais curta história de terror:

O último homem da Terra sentou sozinho em seu quarto. Houve uma batida na porta.

-Frederic Brown

domingo, dezembro 04, 2011

Ele vive poesia


Sim, ele gosta de poesia
Ele só não sabe o que ela significa
Teme em viver atrás daquela máscara de menino mau
Só pra esconder toda poesia que há dentro dele

Sim, ele faz poesia
A cada verso solto que ele constrói em um texto
Em toda a reclamação que lança ao mundo, que não o ouve
Ele só não sabe, mas ele vive poesia

Sim, ele é poesia
Pois poesia é isso
É escrever dor, é descrever alegria
É fugir do amor e ainda assim quere-lo mais que tudo

Já disse isso a ele...
Mas o menino é teimoso!
Não quer admitir que é poeta
Prefere ser menino raivoso

I*C*G
Resposta ao texto Não Ele Não Gostava de Poesias