Escolhi uma navalha qualquer, a primeira que estava na prateleira da loja. Não me importava a marca, e sim o seu corte. Havia de ser potente e preciso, para fazer o seu trabalho em um piscar de olhos, e para que a dor seja forte, mas não extrema. As vezes a gente só pensa mesmo no resultado de uma decisão em nossa vida, mas naquele dia, eu pensava apenas nessa decisão.
Já estava pensando em me matar tinha um certo tempo, desde que minha amiga me rejeitou. Conheço aquela mulher desde que ela era uma menina, com seus dezesseis anos de idade, até agora aos vinte e poucos. Ela sempre foi linda, com o cabelo curto que lhe dava um ar de boneca, seu batom vermelho lhe deixando sensual e o formato de nariz digno de uma rainha europeia. Antes ela era linda de um outro jeito, quando usava cachos e tinha espinhas, nessa época que ela me conheceu. E foi assim, uma identificação mútua de pensamentos, onde ela completava minhas frases e me deixava sem fala. Ela não nutria o que eu sentia por ela, em nenhum momento nutriu.
Disse-me que sentia pena de mim, que eu era um ser vergonhoso e asqueroso, que somente me interesso por coisas supérfluas e nunca conseguiria gostar de algo, de amar. Mal sabe ela, que eu a amei; amei de corpo e alma e sempre deixei isso claro, e em cada momento junto à ela eu reafirmava essa posição. Disse que a amava quando ela engessou o braço e pediu-me que assinasse. Disse que a amava quando peguei aquele pequeno cacho solto de cabelo que estava em sua bochecha e joguei fora. Disse que a amava até mesmo quando disse que a amava.
Fiquei sabendo que o corte tem que ser feito verticalmente, porque o corte horizontal só leva para o hospital. Pesquisei sobre o assunto, refleti e disse que não precisava só causar um susto e levar alguns pontos. Se ela não me amava, nunca me amaria e eu não serei capaz de ser feliz. Queria que o corte jorrasse na parede, assim eu poderia escrever AMOR, acho que daria tempo, melhor escrever pequeno. E foi assim, rápido e dolorido, um corte mais profundo do que eu achei que seria. Talvez o ódio, tomou posse de mim e me fez ter força para tanto, ou talvez foi o desprezo e a ira, ou até mesmo a paixão. O sangue saiu rápido demais, mais até do que eu achei que seria. Na internet não falava nada disso. O sangue escorreu pela parede toda, pelo chão e por cima e mim depois que eu cai. Com o resto de força que ainda tinha, cortei o outro pulso. Esse foi mais fraco e a lâmina logo caiu de minha mão, só deu tempo de olhar para a minha parede onde a única coisa escrita era AMORTE.
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