Páginas

quarta-feira, agosto 03, 2011


Senti o vento balançando meu cabelo enquanto observava o mar sentado. Estive pensando ultimamente, se eu estava certo, se tudo o que eu estava fazendo era certo ou não. Tinha tomado algumas atitudes que me trouxeram até aqui, que me levaram a este momento, este exato momento.
Chego mais perto da beirada, e vejo que há um longo trecho até o mar. Essa colina é mais alta do que eu pensava que seria, mas já não tem mais volta. Saí do meu emprego, vendi meu carro; vim até aqui de carona. Demorei para chegar nesse lugar, o lugar perfeito. Alto, com uma grama na ponta da colina, e o mar embaixo. Sem pedras, apenas a água fria e eternamente móvel do mar. Um lugar onde ventasse o suficiente para que meu cabelo se mexesse, mas nao para que a minha roupa saisse voando por aí. Aqui está tudo perfeito, silencioso e vazio, do jeito que eu queria; já que não posso exigir muitas coisas.
O céu, nublado, ameaça uma chuva que eu havia lido nos jornais que chegaria lá pelo dia de hoje, e demoraria a passar. Era uma nuvem escura, e ampla. Cobria o céu até aonde eu podia ver, e não acabaria tão cedo. Pode ser um mau presságio, pode não ser também.
Começo a me despir, a água está me chamando com esse barulho de ondas que batem na encosta, e o barulho do sal efervecendo e sumindo. Tiro a camisa, desabotoando botão por botão, lentamente. Dobro-a e coloco num canto. Tiro os sapatos marrons, com solas gastas e sujas, um por um, e coloco em cima da camisa. O vento aumentou e ela pode voar. Tiro a meia, faço um bolinho e coloco dentro de meus sapatos antigos. Acho que já não posso mais chamar de meus. Chamarei apenas de sapatos.
Dou uma última olhada para o mar, chego mais perto e aquela sensação de liberdade me consome. O vento batendo diretamente em meu peito nú, a calça balançando, os cabelos, tudo. Aquele cheiro de chuva que ainda não começou, o silêncio, tirando o som das ondas, é quase perfeito. Divino. Era tudo o que eu precisava. Silêncio, vento, chuva, paz, e liberdade. O que mais um homem pode querer em sua vida?
Tomo distância, olho para o céu, já escuro e trovejante, há ainda um ponto de claridade nele. Não há em minha vida. Sinto pela última vez a grama em meus pés, a terra, a energia que a natureza me trás e também a força de continuar esse dia. Cai uma gota em meu ombro, fria como uma lágrima, sinto-me como se alguém estivesse triste por eu estar fazendo isso, apesar de não haver ninguém nesse estado. Dou uma última olhada para as minhas roupas, viro de frente e corro. Corro e sinto o vento aumentando, meu cabelo indo para trás, meu sangue esquentando, outra gota, a grama escorregando entre meus dedos dos pés, o barulho das ondas, aquele último feiche de luz no céu, o frio, minhas mãos suando, as folhas das árvores batendo. Pulo.

Um comentário:

  1. Porra Gui...
    tá muito lindão ^^
    eu gosti do fundo do meu coração...
    (caso não tenha percebido isso é uma estrofe de um poema)

    ResponderExcluir