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quarta-feira, maio 04, 2011

Lembrança de uma longa noite de insônia


Deitou-se havia um certo tempo, mas a roupa pequena, típica de verão, o fez ficar acordado além da conta. Ou será que foi o calor, fora de época, de março? Não importava mais, apenas não chegara ao sono, e agora pensava, lembrava de tudo o que fez naquele dia, mas principalmente, lembrava dela. Ela, aquela menina que ele sempre encontrava no ponto de ônibus. Ela, que ele sabia que morava há apenas dois quarteirões de distância, mas que eles nunca trocaram sequer um "Bom dia". Ele sabia muito mais dela do que ela sabia dele. Ele sabia seu nome, seu endereço e sua cor favorita -ou pelo menos deduzia- já que ela sempre usava um tênis surrado e vermelho.
Lembrou-se de como seus cabelos morenos e compridos balançavam com o vento quando passava um ônibus que não o dela, e ela ficava lá parada, com os olhos brilhantes, esperando o seu chegar. Para onde é que ainda era um mistério. Será que ela acordava tão cedo para ir trabalhar, ou para estudar? Não importava, nada importava. Apenas ela, e seus cabelos, e seus lábios, e sua roupa, e seu tênis vermelho, e seu corpo, e seu perfume de manhã e nada mais. 
Porque será que não conseguiu dormir ainda? Talvez porque lembrava daquela pele, de como seria tocá-la, sentir sua maciez, a maciez e suavidade de todo o seu corpo, chegava a ser um pensamento até imoral; mas não anormal. Ela era perfeita, era a garota de seus sonhos. Ele sabia que ela já havia chegado em casa, e devia se perguntar o porque daquilo. Afinal, esse não foi um dia qualquer, ela podia estar esperando qualquer coisa, mas sua ideia era, realmente, surpreendente. Ele queria sair daquela cama, colocar uma roupa e correr dois quarteirões pra cima, sentir a adrenalina no seu rosto, ver a surpresa no rosto dela, ver como ela parecia à luz da lua, encontrá-la e dizer "todas essas flores em sua janela, foram eu.". Mas ele não conseguia, não tinha coragem suficiente, não se achava digno de entrar tão repentinamente na vida dela. Ela poderia não gostar, poderia fazer pouco. Não valia a pena, achou que o que tinham -se é que tinham- já estava bom. Ele merecia essa insônia, essa e muitas outras que viriam, já que ela continuaria a brilhar em seus sonhos.

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