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domingo, maio 29, 2011

Conversas de Geladeira



Abri a geladeira para pegar aquele último pedaço de torta de morango, que havia sobrado de ontem. Procurei, procurei e nada. Na pia tinha um prato sujo, de sobremesa -Malditos, já pegaram minha torta. Estava quase fechando a geladeira quando ouço um grito: -Ei, espere, não feche ainda, queremos falar com você. Pensei ter ficado louco, mas resolvi atender ao chamado e abri, meio desconfiado. No meio de frutas e legumes, havia um saco com laranjas. Laranjas recém compradas da feira-de-domingo pela minha mãe. Pergutei o que queriam, quando uma delas, a lima me disse:
-Sou Laranja Lima. Doce mas com muitos caroços, aposto que você conhece alguém assim. Uma laranja que você sabe que vai te dar uma alegria enorme, mas ao mesmo tempo, você terá várias sementes que custarão a sair. Sei que todos gostam de mim, e por isso contínuo com sementes. Vocês que me chupem, com semente e tudo.
Achei muita arrogância e prepotência da parte dela, afinal, laranjas além de falarem agora querem me ensinar lições? Olhei para aquela que estava meio de lado, questionei o porquê de estar tão tímida, e então ela me disse:
-Ainda não amadureci. Sou Laranja, mas sou pequena. Posso ter um tamanho grande, e me parecer com as demais, mas ainda não sou crescida. Ponha-me para fora, tenho que ver o mundo, e com ele me fortificar. Te garanto que serei a mais doce das Laranjas que já comeu, mas no frio da geladeira, nessas paredes brancas e fechadas eu não consigo. Preciso tomar novos ares, novas aventuras e assim crescer e aumentar o meu interior.
Tirei ela de lá e pus na fruteira, junto com duas bananas tagarelas e uma mexirica mexiriqueira. Nem bem voltei à geladeira, a Laranja-Pêra me solta uma:
-Sou Pêra, quer você queira. Doce, mas ácida demais, cuidado para não passar mal, rapaz. Tenho visto que sou das menores, mas não piores; sua mente irá fervilhar quando esta começar a falar. De Laranja tenho tudo: bagaço, polpa e suco, cítrica sim, porquê não? Apenas não chupe um milhão.
Eu ri de seu jeito ao me falar como era, em versos e rimas. Me contou de como sua ácidez pode fazer mal para uns, mas tem outros que gostam. Sofre, coitada, queria ser menos assim e poder ser chupada por todos.
É a vida, senhora Laranja, um dia conversa com um jovem, abre seu coração à ele. Ele para, pensa, olha bem para essas laranjas e conclui: "Quer saber, por que não?". Aperta, junta, espreme e torce. Mistura tudo e dá uma adoçadinha. Faz um suco delas, de fruta só o caldo, e do caldo para o copo e do copo para a boca. As bebe como se não houvessem mais laranjas, e assim as conversas de geladeira se acabam e quem sabe, outras laranjas não hão de falar conosco. Laranjas, ameixas, melões. Melões, laranjas e ameixas.

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